Uma rede de comadres
Uma convocação para criarmos a rede da qual, secretamente, desejamos ser parte.
Me encontro aqui,
de olhos semiabertos, no meio de uma noite de desafios, com uma neném dengosa no colo, seus primeiros dois dentinhos nascendo, pingando palavras no bloco de notas do celular—onde vivem meus rascunhos, desabafos, devaneios, minha máquina de escrever, minha escrivaninha e meu escritório. Entre a impossibilidade de dormir e o desejo visceral do corpo por descanso, embalada pelo silêncio profundo do mundo e pela voz materna que, desde o portal-parto, aprendeu a cantar bem, só para ninar, sem assustar essa plateia feita de um, me pego, em palavras escritas, pensando baixinho — para não acordar a Vicky:
Quantas vezes, ao longo da vida, desejei fazer parte de uma roda de pessoas que admirava?
Quantas vezes quis estar inserida em uma rede que parecia fora do meu alcance, tão perto daqueles mais “especiais”, “talentosos” ou com histórias mais interessantes do que a minha? Quantas vezes ansiei por fazer parte de algo maior?
Muitas.
Inúmeras.
Incontáveis.
Não me entenda mal, sou uma mulher feliz e realizada em minha individualidade. Há tempos fiz as pazes com aquele velho anseio de buscar, do lado de fora, um sentimento de pertencimento. Treinei essa necessidade com a paciência de Jó, que, antes mesmo de a placenta ser cortada, já chovia sobre minha aura. Aprendi que não preciso ser aceita primeiro para só depois me aceitar. Hoje, esse bichinho domesticado sabe que pertencimento é um acerto interno, um pacto silencioso entre mim e eu mesma.
Ainda assim, resolvida essa parte, permanece viva a vontade de vida em comunidade, de criação coletiva, de estar inserida em algo deliciosamente maior que a órbita do eu girando em torno do próprio umbigo. Não se trata de preencher um vazio, mas de expandir a presença. De fazer parte, não por necessidade, mas por escolha. Porque há beleza no encontro, potência no compartilhar e uma magia inegável no fazer junto.
Portanto, fazendo de chão esse desejo latente, entre ninar, amamentar, escrever, imaginar e contemplar possibilidades, nasce, com ofuscante clareza, a certeza de que, com um simples formulário do Google Forms + esse virgianismo diligente com o qual também fui agraciada ao nascer, mestre em organizar e catalogar + algumas tantas horas de dedicação nas madrugadas longas que me esperam no horizonte, podemos começar a criar, eu com a sua estimada ajuda em forma de participação, uma bela rede de comadres.
//
\
Atlas das Mães no Substack
O Atlas das Mães no Substack nasce desse desejo de escuta, troca e reconhecimento. De colocar no mapa as vozes de mães que escrevem — não apenas sobre maternidade, mas sobre tudo aquilo que nos atravessa: arte, política, corpo, trabalho, tempo, identidade, criatividade, sexualidade, desejos, cansaço, sonhos e medos.
Esse Atlas é um convite para você, mãe que escreve no Substack, marcar presença, expandir seu alcance para além do seu círculo e se fazer visível para novas leitoras e leitores. Ele não se limita a catalogar as mulheres que escrevem sobre o maternar, mas acolhe toda mãe que escreve sobre qualquer tema, em qualquer estilo, desde que tenha a escrita criativa como parte da sua expressão no mundo.
Ao participar, você entra para essa cartografia viva da escrita materna, permitindo que outras mães te encontrem e vice-versa.
Preencher esse mapeamento é simples, mas os desdobramentos, acredito eu, serão pura potência. Com o Atlas em mãos, poderemos estabelecer parcerias dentro do Substack e criar caminhos para o encontro e a troca olho no olho, descobrindo quem escreve perto de nós e fortalecendo essa rede também no presencial.
Como funciona na prática?
Se você é mãe, escreve, publica no Substack e quer estar no Atlas, basta preencher o formulário que pode ser encontrado no botão abaixo. Nele, você irá fornecer algumas informações sobre a sua publicação que constarão no Atlas (ele será atualizado periodicamente, a medida que a palavra for sendo espalhada). Se você escreve histórias sobre a sua experiência na maternagem e deseja contribuir com a Comadreria (a publicação de criação coletiva que abrigará o Atlas) te convido a se inscrever nesse novo cafofo.
//
\
//
\
COMADRERIA
Um lugar diferente, com sensação de encontro e gosto de prosa entre comadres.
Eu não sei você, mas eu, desde que estreiei nesse palco sem holofote que é a maternidade, tenho desejado ouvir e ler histórias de outras mães, de me embrenhar na escrita de mulheres que, assim como a minha, são permeadas pelos fios multicoloridos da maternidade real, essa não romantizada ao mesmo tempo que indulgentemente poetizável. Uma escrita que nasce nas brechas da falta de tempo, nos intervalos das pilhas de prioridades e roupa pra lavar, que vence o sono e a exaustão e chega ao mundo, ora gritando, ora sussurrando, sempre pulsando uma criatividade que, tal qual nosso amor, não conhece limites.
Quero conhecer mães que escrevem, ouvir suas histórias e suas experiências sem ser bombardeada por conteúdos patrocinados desprovidos de sentimento, encerados com o verniz da superficialidade e adornados com receitas genéricas; quero ler sobre as maternagens que não se assemelham a minha, mergulhar nas histórias de quem é gestante, tentante, desejante por nascer mãe, de quem ganhou e de quem perdeu um filho, de quem no maternar se encontrou e de quem nas demandas dele enlouqueceu; quero me encontrar passageira em narrativas em primeira pessoa que falem sobre as nuances da maternidade, que revelem a humanidade de cada uma de nós e essa imperfeição que texturiza o dia-a-dia e que, ao revelar nossas falhas e angústias, conta ao mundo da potência avassaladora da mulher desdobrada e expandida em mãe.
Quero um lugar diferente, com sensação de encontro e gosto de prosa entre comadres. Sem anúncios piscando, sem conteúdo patrocinado, sem conselhos não requisitados. Apenas histórias cruas e vulneráveis, cheias de vida e contradição, que nos servem de espelho. Escritas por mulheres que, cada uma à sua maneira, ao escrever, desenham no abismo a ponte que lhes possibilita caminhar adiante. Mulheres indulgentemente criativas que, enquanto embalam em afeto o futuro do mundo, fazem arte e história.
Se o que você procura é o deleite da contação de história e um espaço de acolhimento, troca e reconhecimento, a Comadreria está de portas abertas para te receber. Você pode apenas ler, comentar quando sentir vontade ou, se desejar, publicar aqui suas próprias histórias.
Será uma honra trocar, criar e escrever com você!
Para espalhar a palavra sobre essa iniciativa, considere restackar esse texto ou envie-o diretamente para outras mães que escrevem no Substack e que você admira.
Com um afeto radical,
receba desde já o meu muito obrigada!
Verbena Cartaxo
Dúvidas? Visite o FAQ da Comadreria clicando aqui. E para conhecer os princípios e diretrizes sobre os quais essa comunidade se ergue, clique aqui.
quem te escreve hoje?
Verbena Cartaxo é a mulher intencionalmente desacelerada que jardina as terras férteis da Vagarosa e capitaneia a Comadreria. Artista multidiciplinar e costureira de palavras, é também CEO do lar e mãe de uma canceriana de oito meses, metade brasileira, metade polonesa, nascida na Irlanda. Sua escrita nasce do encontro entre Corpo e Palavra, onde poesia, prosa e contação de histórias se entrelaçam. Ex-bailarina, alquimiza textos que dançam — despertando o sentir corpóreo de quem lê e servindo de âncora e catalisador para processos íntimos de transformação, liberação e suculentização.
Fiquei tão tocada pelo texto-convocação, sim, porque me senti convocada à participar de algo maior do que a maternidade que eu vivo entre quatro paredes, nesse momento em que mal saio de casa. Obrigada pelo espaço, já irei me inscrever 🥹🙏🏼
Adorei a ideia, quero participar